Breu da Amazônia: extrativistas da RDS do Uatumã geram renda através de resina abundante na região

breu-da-amazonia

União de conhecimentos garante floresta em pé e desenvolvimento sustentável para ribeirinhos 

Texto e foto: Camila Garcêz/Idesam 

A floresta Amazônica abriga em suas árvores poderosas fontes de cura para doenças físicas e emocionais. Seus frutos, sementes, folhas, raízes e resinas, são elementos essenciais na vida das populações ribeirinhas e indígenas da região. Para além da alimentação e uso medicinal, as famílias extrativistas da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã, também obtém renda através desses produtos da floresta. 

Associação de Agroextrativistas da RDS do Rio Uatumã (AACDRSU) é uma das organizações sociais que compõe a Inatú Amazônia ®, marca coletiva apoiada pelo Idesam, que atua junto aos extrativistas e organizações sociais por meio de assessoria técnica, de gestão e apoio à comercialização. São realizadas capacitações, acompanhamento técnico e de gestão, pesquisas e outros suportes, que auxiliam no melhor aproveitamento das matérias-primas e, consequentemente, na conservação da floresta. Com estas ações, o breu passou a ser uma fonte de renda para as comunidades da RDS do Uatumã.

Árvore de breu com resinas agarradas ao tronco
Árvore de breu com resinas agarradas ao tronco

A árvore de nome popular Amescla, Amecelgueiro ou Breu e Breiero,  cujos nomes científicos se encontram no gênero Protium, é encontrado na região Amazônica e é muito comum na região que permeia o Rio Uatumã (afluente da margem esquerda do rio Amazonas). Na RDS do Uatumã, a resina coletada pelos extrativistas é levada até a miniusina de óleos da organização social local, que foi inaugurada no ano de 2020, por meio do projeto Cidades Florestais do Idesam e financiada pelo Fundo Amazônia do BNDES. 

Vanderley Cruz, gestor da miniusina de óleos, explica que a coleta da resina de breu é formada por um grupo de moradores da reserva que vão para campo fazer a extração. “A resina fica no tronco da árvore em forma de crosta e o extrativista a retira com facões. Na usina, ela passa por um processo de lavagem, para retirar a terra e resíduos de madeira e em seguida é colocada no destilador, onde é fervida com água. Após um processo de cozimento que leva de 3 a 4 horas, o óleo começa a sair por um dos dutos da caldeira e a água, que se transforma em hidrolato e também pode ser utilizada para outros fins”, explica.

Processo de produção do óleo essencial de breu realizado na miniusina de óleos da RDS do Uatumã
Processo de produção do óleo essencial de breu realizado na miniusina de óleos da RDS do Uatumã

No período de safra, a produção pode alcançar 70 quilos de matéria-prima processada por dia, o que gera cerca de 1,4 litro de óleo. Louise Lauschner, especialista em acesso ao mercado do Idesam, explica que o breu já era comumente utilizado para calafetar embarcações e fechar buracos na madeira das casas ribeirinhas. Segundo ela, em 2015, a resina do breu não tinha um valor comercial agregado e valia, em média, R$ 1 o quilo. “Com a construção da usina, foi possível fazer com que esse breu se transformasse em um óleo essencial, gerando maior retorno para os extrativistas e renda para os operadores da usina”. 

O óleo essencial de breu tem origem extrativista, ou seja, não vem de plantio. O trabalho do Idesam é garantir a estruturação da cadeia a fim de alcançar um preço atraente para a resina e para o óleo. Hoje, a usina chega a pagar R$ 8 o quilo, dependendo da qualidade da resina e se a coleta ocorreu nas áreas de certificação florestal. A AACRDSU possui certificação florestal FSC® para breu, copaíba e madeira manejada. A certificação ao mesmo tempo que garante ao consumidor boas práticas de produção, serve como um guia aos produtores, para gerir a atividade de forma a seguir padrões de saúde e segurança, padrões ambientais, sociais e de rastreabilidade, o que permite melhoria da gestão como um todo e acesso a melhores mercados. 

“Aos poucos, estamos transformando essa pequena usina em uma indústria de produção agroextrativista”, destaca Louise Lauschner, lembrando que com a popularização dos benefícios do óleo essencial de breu, hoje ele pode ser vendido por uma média de R$ 2 mil, o litro.

Miniusina de óleos da Associação de Agroextrativistas da RDS do Rio Uatumã (AACDRSU)
Miniusina de óleos da Associação de Agroextrativistas da RDS do Rio Uatumã (AACDRSU)

De acordo com a aromaterapeuta Thais Jemima, o óleo essencial de breu tem se popularizado no mundo, devido suas propriedades anti-inflamatórias e analgésicas, além de ser utilizado para ajudar na concentração e na meditação. “O óleo de breu é excelente no tratamento de doenças inflamatórias. É um broncodilatador natural e pode auxiliar no tratamento de doenças respiratórias, como a asma e a bronquite. Na aromaterapia, pode ser utilizado para limpeza energética do ambiente e para limpar o chakra coronário, que é o responsável pelas emoções, ele ajuda a liberar emoções de perda e luto”, conta. 

O breu também pode gerar outros tipos de produtos. O resíduo do processo ainda pode ser usado na calafetação de barcos de pequeno porte, utilizado pelos comunitários. A partir do hidrolato (água com resíduo do óleo), são gerados diversos outros tipos de produtos para a perfumaria, cosméticos e higiene.

“Hoje a Inatú Amazônia® tem alguns clientes como a Urucuna, empresa de velas de massagem e aromas de ambiente; e a Moma, empresa de cosméticos naturais e veganos. Esses são clientes vindos através do Selo Origens Brasil® e são empresas preocupadas com o mercado justo e com a geração de valor nas comunidades ribeirinhas. Mas também atendemos outras empresas do mercado de óleos essenciais, que estão interessadas nos óleos e tem dificuldade em encontrá-lo”, relata. 

O Selo Origens Brasil®, desenvolvido pelo Imaflora e ISA, é uma rede que promove negócios sustentáveis na Amazônia em áreas prioritárias de conservação, com garantia de origem, transparência, rastreabilidade da cadeia produtiva e promovendo o comércio ético. O breu da RDS do Uatumã ao possuir tanto Selo Origens como o FSC® se destaca quanto às garantias de sustentabilidade social e ambiental.

Share the Post:

Related Posts